Manifesto Contra o Racismo no Shopping Higienópolis

Abr 25, 2025

Instituto Equipe participa de ato contra o racismo no Shopping Higienópolis

Na tarde do dia 23 de abril, movimentos sociais e comunitários, com o apoio do Instituto Equipe Cultura e Cidadania, do coletivo Equipreta e do Grêmio Sankara, realizaram uma manifestação em frente ao Colégio Equipe contra o racismo institucional. O ato foi convocado após dois estudantes negros do Ensino Fundamental II, um deles integrante do Programa Proceder, serem vítimas de abordagem discriminatória por seguranças do Shopping Higienópolis no dia 16 de abril.

A manifestação contou com a presença de estudantes, educadores, familiares e representantes de diversos coletivos e movimentos de moradia, que caminharam juntos até o shopping para denunciar o racismo estrutural presente em espaços comerciais da cidade. O Colégio Equipe esteve representado no ato e manteve o funcionamento das aulas, orientando as famílias a dialogarem com seus filhos sobre a participação.

Durante o protesto, foi lido o manifesto coletivo construído pelas organizações envolvidas. Abaixo, reproduzimos o texto na íntegra:


MANIFESTO CONTRA O RACISMO NO SHOPPING HIGIENÓPOLIS

Eles estão te incomodando? Estão te pedindo alguma coisa?”

Essa pergunta, proferida por um segurança do Shopping Higienópolis, é expressão direta do racismo estrutural que ainda permeia nossa sociedade. Não se trata de um episódio isolado: já existem outras denúncias envolvendo atitudes discriminatórias nesse mesmo estabelecimento. Em todas elas, a resposta institucional é a mesma — pedidos de desculpas vazios, sem qualquer mudança efetiva de conduta.

Cada ato racista deixa marcas profundas. São feridas abertas que reatualizam o passado escravocrata do Brasil, como se, mais uma vez, corpos negros fossem arrastados ao pelourinho e marcados pelo açoite. Essas cicatrizes, mesmo quando aparentemente curadas, jamais desaparecem. Permanecem na memória, no corpo e na alma.

Enquanto, para muitas crianças brancas, passear em um shopping ou sentar-se em uma praça de alimentação é um momento de lazer e despreocupação, para crianças e adolescentes negros a realidade é outra. A vida os obriga à vigilância constante. A experiência do ócio, do prazer e da liberdade é constantemente interrompida pelo olhar racista que os vigia, suspeita e pune — até mesmo em um simples passeio.

Esse foi o caso de Isaque e Giovana, estudantes negros do Colégio Equipe. No dia 16 de abril de 2025, após participarem de uma atividade escolar sobre letramento racial, os adolescentes, acompanhados de colegas, dirigiram-se ao Shopping Higienópolis, nas proximidades da escola. Enquanto aguardavam na fila da praça de alimentação, ao lado de uma colega branca, foram abordados por seguranças com a seguinte indagação:

“Eles estão te incomodando? Estão te pedindo alguma coisa?”

Essa pergunta não é ingênua. Não é neutra. É a face explícita do racismo estrutural e ambiental que insiste em desumanizar crianças negras, enxergando-as como ameaças — mesmo quando tudo o que faziam era esperar por um lanche com os amigos.

Isaque, Giovana e tantas outras crianças negras não deveriam carregar esse fardo. O racismo lhes rouba a inocência, os sonhos e o direito à infância plena. Isso é cruel. Isso é inadmissível.

Exigimos mais do que desculpas protocolares.
Exigimos uma mudança concreta e urgente de postura por parte da administração do Shopping Higienópolis.
Exigimos ações efetivas contra o racismo institucional, acompanhadas por mecanismos de controle social, com a participação ativa da sociedade civil e a fiscalização do Ministério Público.

Abaixo o Racismo – Justiça para Isaque e Giovana!!

Queria ver você negro/ Negro queria te ver/
Se Palmares ainda vivesse/Em Palmares queria viver.
Negro correndo livre/Colhendo, plantando por lá/
Se Palmares ainda vivesse/Em Palmares queria ficar…
Te vejo meu povo feliz/Teu sonho querendo sentir/
Se Palmares ainda vivesse/Pra Palmares teria que ir…
Por menos que conte a história/Não te esqueço meu povo/
Se Palmares não vive mais/Faremos Palmares de novo!!

Poema de José Carlos Limeira

Assinam este manifesto:
MMLJ – ASTC SP – MMRC – CMP – CEMOS – MNU – CONEM SP – Instituto Equipe Cultura e Cidadania – Equipreta – MSTC – Fala Negão Fala Mulher – Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos

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